Você sabia que, além do Relatório do Plano Piloto de Brasília, Lúcio Costa produziu outro documento que faz parte da preservação da capital? Trata-se do Brasília Revisitada.
Brasília Revisitada é um Anexo integrante do Decreto Distrital nº 10.829, publicado em 1987. O decreto foi elaborado em regulamentação ao Artigo 38 da Lei Federal nº 3.751/60 (no que se refere à preservação da concepção urbanística de Brasília). Em 1992, o documento passou a integrar também a Portaria do Iphan nº 314/1992.
Indicamos esses dois livros para quem quer se aprofundar no assunto:
LIVRO (Im)possíveis Brasílias: os Projetos Apresentados no Concurso do Plano Piloto da Nova Capital Federal
Resumo
O autor procura elogiar alguns pontos e fazer recomendações acerca de questões que considera essenciais para a harmonia do conjunto urbano de Brasília. Lúcio Costa inicia tangendo os temas: alterações, preservação e expansão. E coloca a questão fundamental sobre a preservação de Brasília: se, por um lado, há que se assegurar a proposta original, de outro, há que se possibilitar o impulso de vida da cidade.
O documento é desenvolvido pela divisão em três blocos: Características Fundamentais do Plano Piloto, Complementação e Preservação; Adensamento e Expansão Urbana do Plano Piloto.
1) Características Fundamentais do Plano Piloto:
Lúcio Costa fala sobre a importância das quatro escalas de Brasília, a saber: monumental, residencial, gregária e bucólica. Destaca o significado e o caráter de cada uma das escalas. O estabelecimento dessas escalas está em consonância com os ideais modernistas de definição e setorização das ações humanas, como morar, comer, trabalhar e se divertir.
Escala monumental: edifícios e locais políticos e demais símbolos cívicos;
Escala residencial: blocos residenciais e seus jardins, sobretudo integrantes das superquadras;
Escala gregária: edifícios e locais públicos ou semipúblicos que são locais de encontro;
Escala bucólica: locais de passeio ou lazer, onde devem predominar as áreas verdes.
Ao tratar da questão residencial, é absolutamente claro quando estabelece a proposta de um concentrar as moradias em superquadras, ao longo do Eixo Rodoviário-Residencial, através da criação de áreas de vizinhança. Lúcio Costa aponta positivamente para a eficiência viária e a visão do céu. Ele aborda a questão do paisagismo, destacando que não houve arborização em muitas das áreas onde estava previsto, por exemplo, no canteiro da Esplanada, além de encomendar a retirada de palmeiras imperiais nessa área. E finaliza o bloco com croquis e descrição para introduzir das chamadas quadras econômicas, destinadas à habitação coletiva, as quais hoje são conhecidas como Quadras Lúcio Costa.
2) Complementação e Preservação:
No segundo bloco, o autor apresenta 7 recomendações para complementar a preservação do projeto urbanístico-arquitetônico de Brasília.
Proceder ao tombamento patrimonial;
Manter a altura dos prédios no Eixo Rodoviário e no Eixo Monumental, e no Setor de Grandes Áreas;
Garantir a estrutura das unidades de vizinhança;
Prever percursos contínuos e animados para pedestres no Setor de Diversões;
Providenciar as articulações viárias necessárias para manter a fluidez;
Realizar obras de recuperação da plataforma rodoviária;
Realizar cuidados locais com as pracinhas e seus elementos.
3) Adensamento e expansão urbana do “Plano Piloto”:
Terminadas, por assim dizer, as explanações sobre a preservação de Brasília, Lúcio Costa apresenta adequações a serem feitas a respeito da ocupação, sobretudo residencial em áreas próximas ao que chamamos Plano Piloto, para reafirmar o conceito de cidade parque. Reitera o projeto das quadras econômicas, situadas próximo ao Guará.
Para a cidade de Brasília, propriamente dita, propôs seis áreas, enumeradas de A a F. Vejam a imagem lá em cima.
A e B: na parte oeste da cidade, entre a Praça Municipal e a via EPIA, o que vieram a ser o Sudoeste e o Noroeste, respectivamente;
C: próxima à Vila Planalto, esta que já havia proposto;
D: é sugerida pelos centros comerciais consolidados ali, onde está o Guará;
E e F: visam atender à demanda de moradia, que seriam em habitação multifamiliar, que ele chamou de Asa Nova Sul e Asa Nova Norte. Hoje são próximas ao Setor de Mansões Lago Norte e alguns condomínios do Jardim Botânico, respectivamente.
Lúcio Costa conclui seu relatório reiterando os pontos apresentados quanto à preservação da cidade, e falando sobre o adensamento urbano de Brasília, a respeito do qual ele faz recomendação de que fossem criadas áreas industriais que ofertassem trabalho em suas proximidades.
Confira no link abaixo a íntegra do documento.