O nosso artigo de hoje pretende abrir espaço para uma reflexão sobre a importância dos espaços vazios. Vamos abordar esses vazios em suas diversas escalas, com seus significados e quais são as sensações que eles causam.
É importante destacarmos aqui a importância do vazio. O vazio é a essência das coisas.
Do mesmo modo que o som não pode existir sem o silêncio, nenhuma coisa pode existir sem o nada, sem o espaço vazio.
(O Poder do Agora, livro por Eckhart Tolle)
O vazio e o minimalismo:
O termo minimalismo pode intimidar e deixar a impressão de elitista. Quando pensamos em minimalismo, podemos pensar em cômodos super espaçosos e abertos, ou ainda, em ambientes sérios e estéreis.
Assim, podemos pensar: Como é que isso se encaixaria em minha vida, com crianças, animais de estimação, hobbies, e muitas coisas a fazer?
Quando pensamos em minimalismo, logo o associamos a vazios.
Infelizmente, o vazio não parece muito interessante, sendo associado a perda, privação e escassez. Mas, o que propomos aqui é um olhar por outro ângulo: pense no que o vazio é, em vez do que ele não é. O vazio significa espaço.
Espaço! Está aí algo que faria bem para todos! Espaço no guarda-roupa, na garagem, na agenda, espaço para pensar, se divertir, criar e curtir a família…
(Menos é mais, livro por Francine Jay)
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Repare: quando está vazio, um recipiente vale mais, afinal, não poderíamos tomar um café fresco se houvesse borra na xícara. Da mesma forma, não poderíamos exibir os botões do jardim se o vaso estivesse cheio de flores murchas.
Assim acontece com as nossas casas. A nossa vida transborda de bagunça e a nossa alma acaba por ficar em segundo plano em relação às nossas coisas. Não abrimos tempo, energia e espaço para novas experiências. Ficamos espremidos e não conseguimos nos expressar por completo.
Tornarmo-nos minimalistas nos põe no controle de nossas coisas. Exigimos nosso espaço e restituímos a função e o potencial de nossos lares. Transformamos nossas casas em novos recipientes abertos, arejados e receptivos para o conteúdo de nossas vidas. Declaramos independência da tirania da bagunça. E isso é, sem dúvida, libertador!
(Menos é mais, livro por Francine Jay)
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O vazio e o natural:
Os espaços vazios, portanto, significam algo maior do que a simples inexistência de construção.
Muitas vezes, usamos os vazios para interagir de forma direta com a natureza que nos rodeia e possibilita nos relacionarmos com elementos definidores da natureza, como o clima e a presença da luz natural.
A luz natural pode incidir através de um átrio (vazio fechado por alas de construções) ou através de qualquer outro vazio, transformando um ambiente aparentemente sem significado em um local repleto de dinamismo. A luz natural pode ser moldada por aberturas, fissuras ou elementos que filtrem a entrada dessa luz.
Além do átrio, temos o pátio. O pátio estimula a organização espacial, criando uma ligação interior-exterior, permitindo uma maior incidência de luz natural.
O pátio pode aparecer em um edifício público ou em uma residência. Sendo mais do que um simples vazio no meio de uma construção, o vazio pode ser o centro de todo o funcionamento ou a interação dos espaços funcionais com o meio externo.
O pátio pode ser visto como uma solução espacial que permite o contato com a natureza sem abrir mão da privacidade.
O vazio e o social
Quando falamos em vazios em espaços sociais, podemos citar a praça e o saguão de edifícios.
A origem do termo praça está associada à Grécia Antiga, quando da criação da Ágora, e foi se estendendo por várias localidades.
Na ágora, aconteciam reuniões de interesses comuns à vida da civilização grega, como justiça, obras públicas, cultura, entre outros. A ágora era um local onde se praticava a democracia direta, sendo também palco de discursos políticos e festividades.
É importante observar como um vazio surgiu como espaço protagonista das mais diversas dimensões sociais.
O saguão (salão ou vestíbulo espaçoso, nos grandes edifícios), por sua vez, é uma espécie de variante do pátio. Pode ser visto como uma mescla entre um pátio e um hall, em um espaço interno.
“Desse modo, uma primeira hipótese da criação do saguão surgia como uma ‘… redução da dimensão (horizontal) do pátio e o crescimento em altura da casa-pátio, pressionadas pelo aumento da densidade urbana, [que] induzem um crescimento da proporção vertical do pátio, e, em casos extremos a sua conversão num ponto de ventilação.’.
(A Construção do Espaço Vazio na Arquitetura, dissertação por Luís Filipe Monteiro Vieira)
O saguão, portanto, aparece como uma solução para áreas compartimentadas, que não possuem contato direto com o meio externo, trazendo iluminação e ventilação. O saguão geralmente tem proporção estreita, semelhante a um fosso ou uma chaminé. Porém, muitas vezes assume uma posição rebuscada.
O que vale dizer sobre o vazio no meio comum, seja no local público ou no privado, é que ele proporciona uma vasta experiência social.
Os vazios em casa:
Um vazio que tem sido muito pedido nos nossos projetos residenciais é o pé-direito duplo (quando a altura entre o piso e o teto corresponde a dois pavimentos).
O pé-direito duplo, além de dar um ar de elegância para a casa, é um respiro para os nossos olhos e uma experiência acústica diferente.
Nessa mesma linha do pé-direito duplo, temos também o vazio do mezanino (piso intermediário quando há o pé-direito duplo).
Outras formas de trazer o vazio para a sua casa são o jardim de inverno (jardim normalmente anexado a uma residência, geralmente usado como uma área para criação de iluminação e ventilação de outras áreas), os terraços e o hall.
Portanto, principalmente quando falamos de residências, para além das questões estéticas e psicológicas, os vazios estão diretamente relacionados a questões de iluminação e ventilação.
Os vazios na decoração:
Você, provavelmente, já entrou em algum estabelecimento e perdeu a vontade de procurar o que estava precisando. Você sentiu um incômodo com a maneira com a qual o seu cérebro interpretou o local.
O vazio na decoração tem a função de descanso para que possamos processar as inúmeras informações. Quando entramos em um ambiente, procuramos por um vazio involuntariamente e nos relacionamos com ele.
Não falamos necessariamente de uma decoração minimalista.
Veja que, mesmo em um ambiente cheio de detalhes como um ambiente clássico, é possível trazer essa sensação de respiro.
Pedimos que você reflita um pouco sobre a nossa ânsia de preencher os espaços, assim como fazemos em tantas outras coisas na vida. Ou, então, às vezes achamos que isso é irrelevante.
Pense em como seria desagradável ler este texto sem parágrafos e com espaçamentos menores, e você verá como os vazios são fundamentais.
Perceba como os vazios, assim como os silêncios, nos permitem respirar e nos conectar com nós mesmos.
Referências:
O Poder do Agora, livro por Eckhart Tolle
Menos é mais, livro por Francine Jay
A Construção do Espaço Vazio na Arquitetura, dissertação por Luís Filipe Monteiro Vieira